domingo, 28 de setembro de 2008

Colirio



Neste domingo quero ficar sossegada com meu colirio.

Os olhos azuis se apagaram


Sempre adorei filmes clássicos antigos , parece que a Hollywood dos anos 50 tinha uma aura de glamour e magnetismo que não vimos nos dias de hoje. Paul Newman sempre foi um dos meus astros favoritos , talvez um dos poucos que tenham mantido a beleza e a serenidade ao longo dos anos; soube da sua luta contra o câncer a algum tempo e fiquei triste com a noticia de sua morte. Realmente um grande ator e uma figura que, nos últimos tempos dedicou-se a muito filantropia ( não a pilantropia como algumas celebridades costumam fazer ) enfim um ator que possui muita da minha admiração. Que aqueles belíssimos olhos azuis encontrem a paz.

Cinema



Venho aqui chamar atenção para dois lançamentos de filmes que devem chamar a atenção pela qualidade e tambem pelo carinho que sinto pelos seus diretores, vale a pena conferir

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
Por Angélica Bito
criticas@cineclick.com.br

Fernando Meirelles tinha um grande desafio em mãos quando foi contratado para dirigir Ensaio Sobre a Cegueira: traduzir em imagens uma história magistralmente descrita em palavras por José Saramago num de seus mais reconhecidos livros. Narrada com destreza única pelo escritor português, é a primeira vez que ganha as telas de cinema. O livro, tão particular em narrativa e desenvolvimento, nunca havia sido adaptado ao cinema por isso e também pelo fato do escritor ter confiado a estes produtores a tarefa. Sorte a dele e a nossa, pois Meirelles supera muito bem o desafio neste seu novo trabalho, apresentando uma adaptação no mínimo digna e respeitosa do livro na qual se baseia.

Os personagens de Ensaio Sobre a Cegueira não têm nome como uma forma do autor em negar qualquer tipo de vínculo que possam ter com quem toma contato com a história, único compromisso da obra. Ela começa quando um homem - o Primeiro Cego (Yusuke Iseya) - deixa de enxergar em meio ao trânsito de uma metrópole (quem mora em São Paulo é capaz de enxergar as referências e locações, mas a idéia é ambientar a história numa grande cidade sem identificação, assim como os personagens). Um homem (Don McKellar, também autor do roteiro), que mais tarde é revelado como o Ladrão, o leva para casa. Acompanhado da esposa (Yoshino Kimura), o Primeiro Cego é levado para uma consulta a um oftalmologista (Mark Ruffalo); logo na sala de espera, já temos contato com os personagens que farão parte do restante da narrativa: a Rapariga dos Óculos Escuros (Alice Braga), o Velho de Tapa-Olho (Danny Glover), o Menino de Óculos (Mitchell Nye) e a Recepcionista (Maury Chaykin). Sem nome nem passado, os personagens são revelados ao espectador por meio de seus atos. O que importa é como se comportam em meio ao caos, já que é numa situação como estas que as máscaras caem efetivamente. Ninguém está olhando mesmo.

Aos poucos, o pequeno núcleo na sala de espera do Médico começa a demonstrar a mesma cegueira branca contraída pelo Primeiro Cego. Um a um, todos deixam de enxergar, passando a ter a sensação de estar "nadando num mar de leite", como um dos personagens descrevem. Caem por terra todas as distinções de classe ou poder. Exceto uma pessoa: a Mulher do Médico (Julianne Moore). Rapidamente, o que era um caso isolado é levado à estância de epidemia e o governo é obrigado a transformar um antigo manicômio num local de quarentena, onde os atingidos pela epidemia são isolados para que ela não se espalhe, pelo menos até que a situação seja controlada. A Mulher do Médico, única a enxergar, é quem guia (ou tenta, no caso) os personagens pela jornada que acompanhamos em Ensaio Sobre a Cegueira.

O filme não se propõe a responder, mas sim questionar, especialmente a natureza humana. Por meio da montagem e do trabalho de desgaste visual do figurino e cenários, Ensaio Sobre a Cegueira deixa claro como a humanidade tende a caminhar ao caos uma vez que não existem mais regras nem moral. Quando todos deixam de enxergar, é como se ocorresse uma implosão dentro da sociedade e o caos é estabelecido, não somente junto aos infectados, mas também junto a quem tenta não ficar cego. Neste caso, cabe questão da personagem tão bem interpretada por Julianne Moore: neste caso, pior é ser o único a ver.

Muitas passagens violentas e degradantes do livro de Saramago são traduzidas com sucesso pelas imagens de Meirelles. O diretor trabalha o tempo inteiro com a falta de foco e o enquadramento das imagens, que, à primeira vista, parecem erros, mas estão lá para darem a impressão que as imagens foram captadas por um cego. As cores são ausentes, exceto pelas primeiras imagens, que focam um semáforo mudando de cores. Tons de cinza, branco e bege se revezam na tela no figurino e cenários, dialogando diretamente com a presença intensa de luzes brancas. Ao mesmo tempo, existe um trabalho elaborado fotografia - cuja direção é assinada por César Charlone -, que constrói cenas dialogando com as texturas e transparências dos ambientes.

A fim de criar essa cidade que entra no caos durante a epidemia de cegueira, Ensaio Sobre a Cegueira filma pontos normalmente movimentados de São Paulo num vazio absoluto, o que causa uma estranheza incômoda em quem conhece a cidade. Não que o filme vá funcionar melhor junto a este grupo, mas com certeza esse sentimento que causa ver o Minhocão vazio, por exemplo, contribui para que o espectador sinta o desconforto proposto pelo filme. Desconforto semelhante ao causado por sua primeira exibição mundial, no Festival de Cannes, onde foi recebido com opiniões divididas. Tanto que Meirelles aplicou duas mudanças pontuais para chegar à versão do longa que vemos algo em circuito: a exclusão de uma violenta cena de estupro e a narração do Velho de Tapa-Olho, reduzida a poucos minutos do filme.

Ao ter sucesso na adaptação cinematográfica neste tão difícil livro de José Saramago, Fernando Meirelles não somente vence um desafio, mas mostra novamente por que é um dos melhores cineastas em atividade - independente da nacionalidade.

CANÇÕES DE AMOR
Por Angélica Bito
criticas@cineclick.com.br

Canções de Amor chega ao circuito comercial brasileiro apoiado pelo relativo sucesso de Em Paris - pelo menos no circuito mais restrito -, longa anterior de Christophe Honoré. Se em seu filme de 2006 o diretor e roteirista francês era profundamente influenciado pela Nouvelle Vague, o gênero que o inspira em seu novo trabalho é o musical.

Novamente, o galã Louis Garrel protagoniza um longa de Honoré. Ele é o sedutor Ismaël Bénoliel, namorado de Julie Pommeraye (a bela Ludivine Sagnier). Logo no começo do filme, uma tragédia marca os destinos dos personagens que transitam pelas ruas da capital francesa entre lágrimas, dramas, sorrisos e as simpáticas (mesmo quando tristes) canções de Alex Beaupain - cujo trabalho neste longa lhe rendeu um César (principal prêmio do cinema francês) de Trilha Sonora Original.

Ironicamente, carrega uma aura positiva, apesar de sua história passar longe disso, e talvez seja esse o ponto que o diretor pretendia desenvolver neste longa-metragem. Com um sorriso no rosto e uma boa música na cabeça, os damas parecem ser menos pesados. Somente parecem, no entanto.

Canções de Amor é um filme sem pretensões que tem grandes chances conquistar um público bem definido: os que gostam do trabalho de Honoré, os que não resistem ao charme europeu de Louis Garrel, os apreciadores de filmes musicais e de música francesa. É inegável que Canções de Amor é um longa bem-realizado e merece ser conferido. A não ser que você não aprecie tanto os musicais quanto Honoré deve fazê-lo ao prestar esta bela e simpática homenagem a um gênero não tão popular quanto era em décadas passadas.